Em pleno Mês do Orgulho LGBTQIAPN+, a pauta da visibilidade bissexual ganha destaque, mas ainda enfrenta um cenário de apagamento e preconceito — inclusive dentro da própria comunidade que deveria acolher todas as letras da sigla. A reportagem da coluna Pouca Vergonha revela como, mesmo com avanços em reconhecimento e informação, pessoas bissexuais continuam sendo alvo de estereótipos e julgamentos injustos.
O psicólogo João Victor Moreira, homem bissexual e ativista, traz um olhar profundo sobre os desafios enfrentados por quem se identifica como bi. Ele explica que a sociedade ainda resiste a aceitar sexualidades que não se encaixam no modelo binário tradicional — hétero ou homo. Para ele, a atração vai além do gênero, e isso causa estranhamento em muitos, inclusive em relacionamentos afetivos, onde o preconceito pode vir do próprio parceiro.
Entre os estigmas mais comuns enfrentados por bissexuais estão rótulos como “indecisos”, “bi de festinha” ou “em cima do muro”. Essas ideias, segundo João, invalidam a vivência dessas pessoas e alimentam a invisibilidade. Além disso, há a pressão de “provar” a bissexualidade por meio de relacionamentos com ambos os gêneros, como se fosse necessário justificar a própria identidade.
Outro ponto alarmante é que parte da comunidade LGBTQIAPN+ também contribui para essa exclusão, o que agrava ainda mais o sentimento de isolamento. João relata que precisou de um processo intenso de autoconhecimento e desconstrução para lidar com os julgamentos e encontrar paz com sua sexualidade.
O psicólogo conclui que o maior desafio é romper com as narrativas sociais que definem o que é um relacionamento “normal”. Enquanto essas normas não forem questionadas, pessoas bissexuais continuarão sendo vistas como confusas ou até mesmo “falsas”. Para ele, o importante é que cada um esteja feliz e confiante em suas escolhas — afinal, a sexualidade é um espectro, e a bissexualidade é uma parte legítima dele.