Na França, uma pesquisa realizada com 5.600 pessoas entre 15 e 29 anos revelou que um quarto dos jovens sofre de depressão. Diante da dificuldade de acesso a cuidados psicológicos — seja por custo ou disponibilidade — muitos estão recorrendo à inteligência artificial como forma de apoio emocional. Ferramentas como o ChatGPT têm sido utilizadas como substitutos de terapeutas, tendência que preocupa especialistas em saúde mental.
A psicóloga franco-brasileira Denise Gaelzer Mac Ginity, que atende em Paris, observa que o uso de tecnologias digitais para lidar com questões emocionais se intensificou desde a pandemia da COVID-19. Segundo ela, embora os vínculos sociais tenham sido preservados por meio digital, isso também contribuiu para o aumento dos casos de depressão, ansiedade e burnout. Denise alerta que o digital e a depressão estão cada vez mais conectados, já que o ambiente virtual oferece uma anestesia rápida para a solidão, sem tratar as causas profundas do sofrimento.
Jovens como Lucas Natan, arquiteto brasileiro em Paris, e Sophia, estudante americana, relatam experiências positivas ao usar o ChatGPT como suporte emocional. Para eles, a IA oferece conforto e respostas empáticas, muitas vezes mais diretas do que as de profissionais humanos. Além disso, o custo é um fator decisivo: enquanto sessões com psicólogos custam cerca de € 70, o uso de IA pode ser gratuito ou significativamente mais barato.
No entanto, especialistas alertam para os riscos desse tipo de substituição. A psicóloga Juliana Sperandio Faria aponta que as respostas da IA tendem a ser superficiais e não investigam a raiz dos problemas. Além disso, o reforço constante e automático da autoestima pode gerar empobrecimento das relações sociais e aumento do narcisismo, dificultando a tolerância à diferença e ao contraditório.
Em resposta a um caso de suicídio nos Estados Unidos, a OpenAI anunciou a implementação de mecanismos de controle parental no ChatGPT. Apesar disso, há falhas: se a conversa não contém palavras-chave específicas, o sistema pode não exibir mensagens de prevenção ou contatos de emergência.
A crescente dependência de IAs para suporte emocional levanta debates sobre regulamentação e a necessidade de alternativas seguras, como o chatbot francês Owlie, que, embora disponível 24h, alerta que não substitui o atendimento profissional.